Samuel Vagner, pastor na
Comunidade Cristã Videira.
A decepção com o melhor amigo, a
traição de um irmão e o adultério de um cônjuge são apenas algumas das mais
difíceis situações em que podemos nos deparar. O desafio de liberar perdão, ao
invés de abrigar a mágoa. Esquecer a dívida, ao invés de cobrar a questão.
Ser traído pelas pessoas em quem
você mais confia, certamente é algo que ninguém deseja passar. Mas é algo que
fatalmente acontece ao menos uma vez no decorrer de nossas vidas. Quantas vezes
nos vemos passando por situações em que a razão é nossa e cheios de justiça
própria queremos agir com arrogância e fúria, negando ao outro o direito do
perdão, tentando assim atormentá-lo eternamente por um erro cometido, mas que o
acusado por diversas vezes até já se arrependeu.
De acordo com a profundidade do
amor que sentimos pela pessoa, mais profunda ainda será a intensidade da dor
que sentiremos no caso de uma traição. Se não for bem administrada ela causa
danos ainda maiores comprometendo toda uma vida. Pais e filhos que não se
falam. Irmãos que se tornam verdadeiros inimigos e melhores amigos que se
transformam em concorrentes que dariam tudo para ver o fim e o mal daqueles que
um dia foram tão próximos.
Imagino que enquanto você lê
esses relatos, involuntariamente deve recordar de alguma situação parecida que
você enfrentou ou quem sabe está enfrentando. Nomes aparecem em letras
garrafais na sua mente, histórias são relembradas e quem sabe até recorde as
noites que passou em claro sem acreditar na traição que estava vivendo. Algumas
pessoas se revoltam a tal ponto, que não sossegam enquanto não materializam
esses sentimentos negativos através de uma das ações que a mágoa provoca - a
prática covarde e inútil da vingança.
O fato é que uma vez que se
escolhe seguir pelo caminho dessas atitudes vingativas, se entra em uma
montanha- russa de sentimentos que não vai nos levar a lugar algum, a não ser
ao fundo do poço. Pois enquanto fomos traídos, a culpa repousa apenas sobre os
nossos ofensores. Mas a partir do momento em que nos vingamos, nos assemelhamos
a eles e diante de Deus e dos homens nos tornamos réus do mesmo pecado.
O livro de Provérbios traz
verdades assustadoras acerca do que as manutenções desses sentimentos nocivos
podem causar ao coração humano. Ele nos mostra que um sentimento não curado em
uma situação de mágoa não resolvida, pode até se materializar desenvolvendo
doenças em nosso corpo físico.
A falta de perdão é uma das
principais causadoras de tristeza e doenças psicológicas, psíquicas e físicas
nos seres humanos. Ela nos impede de ver o lado bom da vida, voltando os nossos
olhos para algo ruim que aconteceu e nos prende a um passado que já se foi.
Acabamos então por alimentar o ressentimento que é, em outras palavras, apertar
repetidas vezes o botão replay do controle remoto da nossa história.
Mas a pergunta que não quer calar
é: - Como agir diante de uma traição? -Como se livrar do peso dessa dor que
corrói os nossos ossos? É quase que óbvia a atitude que um ofendido deve tomar
após o acontecimento de tais fatalidades, das quais nenhum de nós está imune. Somos
instruídos através da Bíblia que já há tanto tempo foi escrita a agirmos de
acordo com o ensino eternizado em um dos pilares morais por Cristo proferido: A
Oração do Pai Nosso...
Em que num determinado momento da
oração, Jesus desafia o orador a receber perdão de acordo com a sua capacidade
própria para perdoar. Ele diz: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido. Porque, se perdoardes aos homens as suas
ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não
perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as
vossas ofensas.” Mateus 6 : 12,14 e 15.
E chegando a esse ponto, já fica
explicito que o perdão é uma característica comum na vida de pessoas que foram
perdoadas. Afinal, se você já foi traído, eu lhe desafio a refletir acerca de
algum momento da sua história em que você se viu em algum relacionamento em que
você não foi o correto.
Se ficamos tão revoltados ao
sermos rejeitados, porque não tentamos recordar algum amigo que também foi tão
importante em nossa vida, e em um momento de necessidade em que ele mais
precisou de nós, da mesma maneira o abandonamos por estarmos ocupados demais
com os nossos próprios problemas?
Como ofendidos, sempre guardamos
a mágoa, como a prova de que fomos feridos. E tentamos explicar as nossas
razões lançando aos quatro ventos a situação na qual fomos prejudicados,
esquecendo que toda história possui no mínimo três versões. Que são a versão do
ofensor, a versão do ofendido e a versão de Deus que é o único que vai até a
profundidade das juntas e medulas e pela sua palavra discerne os pensamentos e
as intenções do coração.
Coloque em uma balança o erro
daqueles que você acusa e ao olhar para trás perceba os erros que Deus apagou
da sua história, pagando as suas dívidas e perdoando todos os seus pecados. Os
avessos do perdão sempre serão colocados em questão durante a nossa vida.
Liberar perdão não é uma
alternativa e sim uma obrigação na vida de todo aquele que também teve seus
pecados perdoados e seus erros passados esquecidos. “O perdão é como a cicatriz
de uma queimadura. Lembramos como fomos queimados, porém ao olharmos para ela
não sentimos mais dor alguma.”
Se diante de tudo o que você
acaba de ler, já chegou à conclusão de que vai perdoar quem lhe traiu,
decepcionou ou ofendeu...
Parabéns... Você fez a escolha
certa!
Fonte: Jornal O Povo
(Espiritualidade). Fortaleza, 18 de novembro de 2012.